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    História

    Guerra dos Farrapos: O Que Não Te Contaram

    Tiago NascimentoPor Tiago Nascimento11 de dezembro de 2025Atualizado:13 de dezembro de 2025Nenhum comentário16 Mins de Leitura
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    Você sabia que o conflito armado mais longo da história do Brasil durou impressionantes 10 anos e quase transformou o Rio Grande do Sul em um país independente? Na verdade, a Guerra dos Farrapos, também conhecida como Revolução Farroupilha, representou muito mais do que uma simples rebelião regional. Especificamente, configurou-se como uma guerra civil brutal que envolveu heróis internacionais, traições sangrentas, duas repúblicas proclamadas e segredos que alguém apagou deliberadamente dos livros de história oficial. Entre 1835 e 1845, os gaúchos desafiaram o Império Brasileiro em um conflito que custou milhares de vidas e revelou contradições profundas de uma nação recém-independente. Neste artigo, você vai descobrir os fatos chocantes, os personagens esquecidos e as verdades incômodas que as pessoas raramente mencionam quando falam dessa guerra. Portanto, prepare-se para uma jornada histórica que vai muito além do que ensinaram na escola.

    O Que Foi Realmente a Guerra dos Farrapos?

    A Guerra dos Farrapos representou o maior e mais duradouro conflito interno da história brasileira. Começou em 20 de setembro de 1835, quando estancieiros gaúchos se rebelaram contra o governo imperial. Posteriormente, o conflito só terminou em 1º de março de 1845, após uma década de combates sangrentos. Diferentemente do que muitos pensam, o conflito não envolveu apenas uma briga por impostos ou economia. Em vez disso, representou um choque entre visões completamente opostas sobre como o Brasil deveria organizar seu governo.

    Os farroupilhas – nome que veio de “farrapos”, referindo-se às roupas desgastadas dos soldados gaúchos – lutavam por uma série de demandas. Primeiramente, exigiam o fim dos altos impostos sobre o charque (carne seca), principal produto de exportação do Rio Grande do Sul. Além disso, reivindicavam maior autonomia provincial e representatividade política. Consequentemente, quando o governo central no Rio de Janeiro ignorou essas demandas, a situação explodiu em conflito armado.

    O que torna essa guerra particularmente fascinante é que os farroupilhas conquistaram algo extraordinário: proclamaram não uma, mas duas repúblicas independentes – a República Rio-Grandense em 1836 e a República Juliana em Santa Catarina em 1839. Durante anos, essas repúblicas funcionaram com governo próprio, moeda, exército e até relações diplomáticas. Portanto, o Brasil esteve mais perto da fragmentação territorial do que a maioria dos brasileiros imagina.

    As Causas Econômicas Que Ninguém Explica Direito

    Para entender verdadeiramente a Guerra dos Farrapos, precisamos mergulhar na economia do charque. O Rio Grande do Sul produzia a maior quantidade dessa carne seca que alimentava escravos em todo o Brasil, especialmente nas plantações de café do Sudeste. Entretanto, o charque gaúcho enfrentava concorrência desleal do charque que o Uruguai e a Argentina produziam, países vizinhos chamados de “Províncias Cisplatinas” ou “Prata”.

    Aqui está o problema que causou revolta: o governo imperial taxava pesadamente o charque gaúcho, encarecendo-o, mas permitia a entrada de charque estrangeiro com impostos muito menores. Por que essa política absurda existia? Porque o Rio de Janeiro privilegiava os comerciantes importadores, muitos dos quais mantinham proximidade com a Corte. Consequentemente, os estancieiros gaúchos viam o próprio governo sabotar deliberadamente sua economia.

    Adicionalmente, o Rio Grande do Sul contribuía significativamente para os cofres imperiais através de impostos, mas recebia pouquíssimo de volta em investimentos e infraestrutura. As estradas permaneciam péssimas, as escolas não atendiam suficientemente a população e o governo negligenciava o desenvolvimento da província. Paralelamente, os gaúchos observavam fortunas sendo gastas na Corte com luxos e festividades enquanto sua região recebia tratamento de colônia de exploração.

    A situação ficou insustentável quando, em 1835, o governo central nomeou um presidente de província extremamente impopular, ignorando completamente a vontade local. Essa nomeação representou a gota d’água. Em setembro daquele ano, os farroupilhas se rebelaram, capturaram Porto Alegre em apenas uma semana e iniciaram a guerra mais longa do Brasil.

    Bento Gonçalves: O General Que Virou Presidente de República

    Bento Gonçalves da Silva é o nome mais associado à Guerra dos Farrapos, mas sua história revela muito mais complexidade do que geralmente se conta. Nascido em 1788 em Triunfo, Rio Grande do Sul, Bento administrava uma estância rica e possuía experiência militar da Guerra Cisplatina. Diferentemente da imagem simplista de “rebelde separatista”, ele inicialmente não queria independência – apenas reformas profundas no sistema imperial.

    A transformação de Bento Gonçalves em líder revolucionário aconteceu gradualmente. Quando o governo ignorou sistematicamente as demandas farroupilhas, ele percebeu que mudanças dentro do sistema eram impossíveis. Portanto, em 1836, após os farroupilhas consolidarem controle sobre grande parte do Rio Grande do Sul, proclamaram a República Rio-Grandense. Nesse momento, os líderes escolheram Bento Gonçalves como presidente.

    Ironicamente, quando aconteceu a proclamação da república, Bento estava preso. As forças imperiais haviam capturado o líder e o mantinham encarcerado no forte da Laje, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Sua fuga em 1837 apresenta uma história digna de cinema: com ajuda de simpatizantes, ele escapou do forte, chegou à praia nadando e recebeu resgate de um navio que o levou de volta ao Rio Grande do Sul. Subsequentemente, assumiu efetivamente a presidência da república rebelde.

    Bento Gonçalves governou a República Rio-Grandense de 1837 até 1843, quando renunciou por divergências com outros líderes farroupilhas. Curiosamente, após o fim da guerra em 1845, o Império concedeu anistia a ele e o líder viveu seus últimos anos pacificamente em sua estância, morrendo em 1847. Sua trajetória revela as contradições de uma guerra onde ex-inimigos eventualmente se reconciliaram, embora muitas feridas nunca tenham cicatrizado completamente.

    Giuseppe Garibaldi: O Herói Italiano Que Lutou no Sul do Brasil

    Um dos segredos mais fascinantes da Guerra dos Farrapos envolve o envolvimento de Giuseppe Garibaldi, que mais tarde se tornaria um dos principais heróis da unificação italiana. Mas o que um revolucionário italiano estava fazendo no Rio Grande do Sul em 1835? A resposta revela conexões internacionais surpreendentes do conflito farroupilha.

    Garibaldi chegou ao Brasil em 1835, fugindo de perseguições políticas na Itália após participar de movimentos republicanos. Quando soube da rebelião farroupilha, viu uma oportunidade de lutar por ideais republicanos e contra monarquias – sua paixão pessoal. Ofereceu seus serviços aos farroupilhas e os líderes o aceitaram como comandante naval, apesar de o Rio Grande do Sul não ter acesso direto ao mar naquele momento.

    A contribuição de Garibaldi mostrou-se significativa, especialmente em operações navais no Rio Guaíba e na captura de Laguna, em Santa Catarina, onde os revolucionários proclamaram a República Juliana em 1839. Suas táticas ousadas e coragem pessoal impressionaram os gaúchos. Todavia, sua maior conquista no Brasil não aconteceu no campo militar – ele encontrou o amor de sua vida.

    Anita Garibaldi: A Guerreira Esquecida da História

    Anita Garibaldi, nascida Ana Maria de Jesus Ribeiro em 1821, em Laguna, Santa Catarina, representa uma das figuras mais extraordinárias e injustamente esquecidas da Guerra dos Farrapos. Quando Giuseppe Garibaldi capturou Laguna, conheceu Anita, então uma jovem casada infeliz. Eles se apaixonaram instantaneamente e Anita abandonou tudo para segui-lo na guerra.

    Mas Anita não acompanhava apenas Garibaldi – ela combatia ferozmente por direito próprio. Lutou em batalhas navais e terrestres, aprendeu a cavalgar, manejar armas e liderar tropas. Em uma ocasião famosa, grávida de vários meses, participou da Batalha de Curitibanos em 1839. Quando os farroupilhas sofreram derrota e as forças imperiais a capturaram, os soldados fingiram que ela estava morta e a jogaram entre os cadáveres. Milagrosamente, ela sobreviveu, escapou, encontrou um cavalo e cavalgou por dias através de territórios hostis para se reunir com Garibaldi.

    Posteriormente, Anita acompanhou Garibaldi quando ele deixou o Brasil em 1841, viajando para o Uruguai e depois para a Itália, onde lutaram juntos nas guerras de unificação italiana. Tragicamente, Anita morreu em 1849, aos apenas 28 anos, durante uma retirada militar. Até hoje, ambos os países – Itália e Brasil – a homenageiam como símbolo de coragem e dedicação. Contudo, os historiadores frequentemente minimizam ou romantizam demais seu papel na Guerra dos Farrapos, obscurecendo sua real importância como combatente e líder.

    Tabela: Principais Líderes e Personagens da Guerra

    NomePapelOrigemContribuição Principal
    Bento Gonçalves da SilvaPresidente da República Rio-GrandenseRio Grande do SulLiderou política e militarmente os farroupilhas
    Giuseppe GaribaldiComandante naval farroupilhaItáliaComandou operações navais e capturou Laguna
    Anita GaribaldiCombatente farroupilhaSanta CatarinaLutou em diversas batalhas ao lado de Garibaldi
    David CanabarroGeneral farroupilhaRio Grande do SulComandou forças terrestres, participou do Massacre de Porongos
    Duque de CaxiasComandante das forças imperiaisRio de JaneiroPacificou a região e negociou o fim da guerra
    Antônio de Souza NettoProclamador da República Rio-GrandenseRio Grande do SulDeclarou independência em Piratini
    Domingos José de AlmeidaMinistro da Fazenda farroupilhaRio Grande do SulOrganizou economia da república rebelde

    O Massacre de Porongos: A Traição Que Manchou a História

    Se há um episódio da Guerra dos Farrapos que alguém apagou deliberadamente da narrativa oficial, esse episódio é o Massacre de Porongos. Em 14 de novembro de 1844, quando a guerra já caminhava para o fim, ocorreu uma das maiores traições da história militar brasileira – e suas vítimas foram centenas de soldados negros que lutavam pela causa farroupilha.

    Durante toda a guerra, os farroupilhas contaram com regimentos de lanceiros negros, muitos deles escravos que receberam promessa de liberdade em troca do serviço militar. Esses homens lutaram bravamente por uma década, formando a espinha dorsal da cavalaria farroupilha. Entretanto, quando as negociações de paz se aproximavam, surgiu um problema: o que fazer com esses soldados negros libertados?

    Aqui entra a parte horrível: líderes farroupilhas, incluindo David Canabarro, aparentemente fizeram um acordo secreto com o comandante imperial, Duque de Caxias. Na noite anterior à batalha de Porongos, Canabarro retirou as armas e munições dos lanceiros negros, deixando-os indefesos. No dia seguinte, as forças imperiais atacaram o acampamento. O resultado configurou-se como massacre: as tropas imperiais mataram ou recapturaram como escravos centenas de soldados negros.

    Por décadas, a versão oficial apresentou Porongos como simples batalha. Somente pesquisas históricas mais recentes revelaram a traição. Muitos historiadores acreditam que os líderes farroupilhas concordaram com esse massacre como condição implícita para o acordo de paz – os grandes proprietários farroupilhas não queriam centenas de negros armados e livres em suas terras. Consequentemente, os homens que lutaram por liberdade durante 10 anos receberam traição e massacre daqueles que juraram libertá-los. Esse episódio sombrio revela as profundas contradições de uma guerra travada por “liberdade” numa sociedade escravocrata.

    As Repúblicas Esquecidas: Rio-Grandense e Juliana

    Um aspecto frequentemente negligenciado da Guerra dos Farrapos envolve o fato de que ela não representou apenas uma rebelião – os revolucionários criaram estados independentes que funcionaram durante anos. A República Rio-Grandense, proclamada em 11 de setembro de 1836 em Piratini, possuía estrutura governamental completa, incluindo constituição, bandeira, hino, moeda própria e até tentativas de estabelecer relações diplomáticas com outros países.

    A constituição da República Rio-Grandense mostrava-se surpreendentemente progressista para a época. Os legisladores estabeleceram sistema republicano representativo, separação de poderes, liberdade de imprensa e abolição gradual da escravidão (embora os governantes nunca tenham cumprido essa última promessa de fato). A república emitiu sua própria moeda e selos, alguns dos quais sobrevivem até hoje em coleções históricas.

    Ainda mais impressionante foi a República Juliana, proclamada em 24 de julho de 1839 em Laguna, Santa Catarina. Giuseppe Garibaldi e David Canabarro criaram essa república após a vitória farroupilha naquela região. Embora tenha durado apenas quatro meses, durante esse tempo funcionou independentemente, com governo próprio e administração separada.

    A existência dessas repúblicas demonstra que a Guerra dos Farrapos representou muito mais que rebelião regional. Configurou-se como genuína tentativa de secessão que poderia ter fragmentado o Brasil se tivesse obtido reconhecimento internacional ou se outros territórios tivessem aderido ao movimento. O fato de terem existido durante anos prova que o controle imperial sobre o território brasileiro era muito mais frágil do que a história oficial gosta de admitir.

    Duque de Caxias: O Pacificador Controverso

    Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, recebe celebração na história brasileira como “o pacificador” que encerrou a Guerra dos Farrapos. O governo imperial o nomeou comandante das forças imperiais em 1842, e ele implementou estratégia muito diferente de seus antecessores, que tentavam resolver o conflito apenas pela força.

    Caxias combinou ação militar com negociação política. Ofereceu anistia aos rebeldes, prometeu incorporar oficiais farroupilhas ao exército imperial mantendo suas patentes, e garantiu que não haveria perseguições após o conflito. Simultaneamente, isolou militarmente os farroupilhas, cercando suas posições e cortando linhas de suprimento. Essa combinação de cenoura e porrete funcionou.

    Todavia, a “pacificação” de Caxias tem lado sombrio. Como mencionado anteriormente, há evidências de que ele participou do acordo que resultou no Massacre de Porongos. Adicionalmente, o governo cumpriu apenas parcialmente muitas das promessas feitas aos farroupilhas. Embora os líderes tenham recebido anistia e alguns tenham sido incorporados ao exército, as demandas econômicas originais – redução de impostos sobre o charque e proteção contra concorrência estrangeira – nunca receberam atendimento adequado.

    Portanto, quando analisamos o papel de Caxias na Guerra dos Farrapos, encontramos figura complexa: hábil negociador que evitou mais derramamento de sangue, mas também pragmático político-militar disposto a fazer acordos moralmente questionáveis para alcançar seus objetivos. Sua celebração como herói nacional indiscutível ignora essas nuances incômodas.

    Tabela: Cronologia dos Principais Eventos

    DataEventoSignificado
    20/09/1835Início da Revolução – Tomada de Porto AlegreFarroupilhas capturam a capital provincial em uma semana
    11/09/1836Proclamação da República Rio-GrandenseOs revolucionários separam-se formalmente do Brasil, criando estado independente
    1837Fuga de Bento GonçalvesLíder farroupilha escapa da prisão no Rio de Janeiro
    24/07/1839Proclamação da República JulianaOs farroupilhas criam segunda república em Santa Catarina
    Novembro/1839Queda da República JulianaForças imperiais retomam Laguna após 4 meses
    1842Duque de Caxias assume comando imperialNovo comandante combina pressão militar com negociação
    14/11/1844Massacre de PorongosLíderes farroupilhas traem e massacram lanceiros negros
    01/03/1845Paz de Ponche VerdeGoverno e farroupilhas encerram oficialmente a guerra após 10 anos

    Os Custos Humanos e Econômicos Que Ninguém Calcula

    Dez anos de guerra civil deixaram marcas profundas no Rio Grande do Sul. Estimativas conservadoras apontam para cerca de 3.000 a 4.000 mortos em combate, mas o número real provavelmente é muito maior quando incluímos civis mortos, vítimas de doenças e os massacrados em episódios como Porongos. Para uma província com população de aproximadamente 100.000 a 150.000 habitantes na época, isso representou perda demográfica significativa.

    Os custos econômicos mostraram-se devastadores. Exércitos destruíram fazendas, dizimaram rebanhos e interromperam rotas comerciais. A produção de charque caiu drasticamente, prejudicando não apenas o Rio Grande do Sul mas toda a economia imperial que dependia desse produto. Além disso, o governo imperial gastou fortunas mantendo tropas na região durante uma década – recursos que poderiam ter financiado infraestrutura e desenvolvimento.

    Socialmente, a guerra deixou cicatrizes duradouras. Famílias se dividiram – não era raro irmãos lutarem em lados opostos. A promessa não cumprida de liberdade para os lanceiros negros perpetuou injustiças e criou ressentimentos que ecoaram por gerações. Ademais, a percepção gaúcha de que o governo central os traiu e negligenciou criou cultura regional de desconfiança em relação ao poder federal que, de certa forma, persiste até hoje.

    Curiosamente, apesar de toda destruição, a Guerra dos Farrapos também forjou identidade gaúcha distinta. O orgulho da resistência, a valorização da coragem e independência, e até símbolos culturais como o traje tradicionalista gaúcho ganharam significado mais profundo através dessa experiência compartilhada de luta. Portanto, embora tenha representado tragédia humana, também se tornou mito fundador da identidade regional sul-rio-grandense.

    Por Que Essa História Foi Parcialmente Apagada?

    Se a Guerra dos Farrapos representou o maior conflito interno do Brasil, por que tantos aspectos sofreram minimização ou distorção na narrativa nacional? A resposta revela como os vencedores frequentemente escrevem a história e a manipulam para servir interesses políticos.

    Primeiramente, admitir que o Brasil esteve perto da fragmentação territorial durante uma década não convém à narrativa de “unidade nacional” que o Império e depois a República tentaram construir. Reconhecer que duas repúblicas independentes existiram dentro do território brasileiro questiona a inevitabilidade das fronteiras atuais e a legitimidade do controle central.

    Em segundo lugar, o Massacre de Porongos e a traição aos lanceiros negros representam episódios profundamente embaraçosos. Esses eventos revelam hipocrisia de uma guerra supostamente por “liberdade” que terminou com massacre de homens negros que lutaram por essa liberdade. Para uma nação que já tem dificuldade em confrontar seu passado escravocrata, esse episódio mostra-se especialmente incômodo.

    Terceiro, a presença de figuras internacionais como Garibaldi complica a narrativa simples de “conflito interno brasileiro”. Demonstra que havia conexões ideológicas transnacionais – movimentos republicanos em várias partes do mundo se apoiavam mutuamente. Isso torna a guerra mais complexa politicamente do que simples “rebelião provincial”.

    Finalmente, o fato de que muitas demandas farroupilhas eram legítimas e que o governo imperial atuava de forma corrupta e injusta não convém à mitologia do Império como período de ordem e progresso. Reconhecer que os farroupilhas tinham razões válidas para se rebelar questiona a legitimidade do próprio sistema imperial.

    Legados e Memórias: O Que Sobrou da Guerra?

    Atualmente, os gaúchos celebram a Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul como símbolo de identidade regional. O dia 20 de setembro, data do início da revolução, representa feriado estadual chamado “Dia do Gaúcho”. Estátuas de Bento Gonçalves, Anita Garibaldi e outros líderes farroupilhas adornam praças. Os tradicionalistas exibem a bandeira da República Rio-Grandense com orgulho ao lado da bandeira brasileira.

    Todavia, essa celebração frequentemente ignora aspectos problemáticos. As comemorações oficiais raramente mencionam o Massacre de Porongos. Durante décadas, historiadores apagaram completamente da memória pública o papel dos lanceiros negros e sua traição. Somente recentemente monumentos e homenagens começaram a reconhecer esses soldados esquecidos.

    Politicamente, a guerra deixou legado ambíguo. Por um lado, demonstrou limites do poder central e forçou maior consideração das demandas regionais. Por outro lado, consolidou visão de que o governo deveria reprimir separatismo. Essa tensão entre autonomia regional e unidade nacional continua presente na política brasileira contemporânea.

    Culturalmente, a guerra alimentou romantização do gaúcho como figura heroica, independente e destemida. Essa imagem, embora baseada em elementos reais, também mascara realidades mais complexas e problemáticas daquele período. O gaúcho idealizado das celebrações tradicionalistas representa figura muito diferente dos complexos seres humanos que realmente lutaram na guerra.

    Conclusão: Redescobrindo Verdades Inconvenientes

    A Guerra dos Farrapos representou muito mais do que os livros didáticos geralmente contam. Configurou-se como conflito brutal que durou uma década, custou milhares de vidas, criou repúblicas independentes, envolveu heróis internacionais e terminou com traições sangrentas. Revelar esses aspectos ocultos não diminui o heroísmo de quem lutou – pelo contrário, humaniza essas figuras históricas e torna suas histórias mais ricas e significativas.

    Compreender verdadeiramente essa guerra exige confrontar contradições desconfortáveis: luta por liberdade numa sociedade escravocrata, idealismo republicano manchado por traições pragmáticas, heroísmo genuíno ao lado de oportunismo político. Essas nuances tornam a história mais complexa, mas também mais verdadeira e relevante para entendermos não apenas o passado, mas também questões contemporâneas sobre regionalismo, identidade nacional e justiça histórica.

    Os lanceiros negros massacrados em Porongos, Anita Garibaldi cavalgando grávida através de territórios hostis, Giuseppe Garibaldi lutando por ideais republicanos longe de sua pátria, Bento Gonçalves governando uma república improvisada no meio de uma guerra – todas essas histórias merecem narrativa completa, com suas glórias e suas vergonhas. Somente assim honramos verdadeiramente aqueles que viveram e morreram nesse capítulo dramático da história brasileira.

    Se este artigo te ajudou a descobrir aspectos desconhecidos da Guerra dos Farrapos e a questionar narrativas simplificadas da história, compartilhe sua opinião nos comentários! O que mais te surpreendeu? Você conhecia o Massacre de Porongos? Sua perspectiva pode ajudar muitas outras pessoas a redescobrirem essa história fascinante e complexa que representa parte fundamental da formação do Brasil.

    Referências:

    • Guerra dos Farrapos – Wikipedia
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    Nascido para inspirar mentes curiosas, o Tiago é um visionário que desafia as fronteiras do conhecimento. Com uma habilidade única para encontrar fascínio nas pequenas coisas, ele transforma cada curiosidade em uma jornada épica de aprendizado para seus leitores.

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